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A variável sul-americana

Aquém do inicialmente estimado, o desempenho da safra norte-americana reduz a oferta, mantém as cotações em alta e renova a esperança na América do Sul, onde o plantio do ciclo 2010/11 está apenas no começo. Com a demanda aquecida e a revisão para baixo dos números nos Estados Unidos, a Bolsa de Chicago, referência internacional na formação de preços, redobra sua atenção à safra sul-americana. O mercado passa, a partir de agora, a ser regulado pelo lado Sul, onde Brasil, Argentina e Paraguai terão influência decisiva nesses movimentos, principalmente na soja.

No lado Norte, onde a colheita entra na reta final, a Expedição Safra Gazeta do Povo, que nas duas últimas semanas acompanhou parte da colheita nos Estados Unidos, constatou que o cinturão da produção de grãos, ou Corn Belt, contraria os números e obriga os órgãos oficiais a revisarem as previsões iniciais. Desde o relatório de agosto, a projeção total de milho encolheu perto de 18 milhões de toneladas, para 321,7 milhões de t. Na soja, a produção sofreu o impacto da inesperada redução de área, que em plena colheita caiu em meio milhão de hectares. Mais uma vez, o USDA parece ter superestimado área e produção de soja e milho no país.

O novo ciclo de expansão do agronegócio Depois de acompanhar a colheita nos Estados Unidos, a Expedição Safra inicia hoje o roteiro pela América do Sul. O ponto de partida é o Brasil, onde as equipes se preparam para percorrer 25 mil quilômetros, por 12 estados. Nesta temporada, a Expedição Safra se pauta pela temática do agronegócio sustentável, moderno e globalizado.

De qualquer forma, no embalo dos Estados Unidos, o cenário favorece a América do Sul, que entra em 2010/11 com boas perspectivas de preços internacionais, cotações e previsões que estimulam o plantio e, neste momento, chegam a compensar parte das perdas na relação cambial, com o dólar desvalorizado frente ao real. O grande ponto de interrogação está no clima, que em ano de La Niña - chuvas mal distribuídas e abaixo da média - pode afetar a competitividade e as oportunidades dos produtores sul-americanos.

Brasil A depender exclusivamente das condições climáticas, as primeiras estimativas para a safra brasileira de soja revelam produção similar e área até 3% superior à cultivada no exercício anterior. Para a Companhia Na­cional de Abastecimento (Conab), no intervalo superior da previsão, a oleaginosa pode atingir 68,9 milhões de t. Para a Expedição Sa­­fra, que sai a campo a partir de ho­­je conferir a intenção de plantio no Brasil, o grão pode repetir o excepcional desempenho do ciclo anterior e se manter entre 68 e 69 milhões de t. Entre os fatores determinantes, o clima e o Mato Grosso, onde o plantio segue atrasado. Já o milho, que pela Conab perde em torno de 170 mil hectares (2,2%) e 3 milhões de t (8,7%), na avaliação da Expedição tem potencial para rendimento ligeiramente superior ao estimato pelo órgão, de 31,1 milhões de t. "Nas revisões e ajustes, comum durante a safra, é preciso considerar a variável clima. Mas num cenário otimista é possível afirmar que o cereal de verão pode chegar em 32 milhões de t", diz Robson Ma­­fioletti, analista da Organização das Coope­rativas do Paraná (Ocepar). Segundo o analista, "estamos à mercê do clima, que, em ano de La Niña, pode ser decisivo, ou simplesmente não fazer diferença, o que já será um enorme ganho". Apesar das dúvidas sobre a intensidade do fenômeno, que reduz as chuvas na parte Sul da América do Sul, o mercado internacional trabalha com a hipótese da influência negativa do La Niña. "Os contratos de março e abril em Chicago evidenciam essa relação, com as cotações futuras aquecidas em plena safra sul-americana. Pode ser o mercado antecipando-se à possibilidade de menor produção por aqui", destaca Mafioletti.

Estados Unidos Enquanto avança o plantio e cresce a expectativa no Brasil, os Esta­dos Unidos ainda brigam com os números. No roteiro de 10 dias pelo Corn Belt, a Expedição encontrou cenários distintos entre os dados do USDA e a realidade no campo. Apesar de a colheita entrar na reta final, as estimativas de safra ainda podem ser revistas, principalmente no milho. Os últimos dados oficiais apontam para a produção de 321,75 milhões de t de milho (-3,4%) e 92,75 milhões de t de soja (+1,5%). Na comparação com o relatório de agosto, queda de 17,75 milhões de t do cereal e de 650 mil t da oleaginosa. Ainda assim, espera-se a terceira maior safra de milho e a maior de soja. Com base na sondagem a campo, a Expe­dição trabalha com 322 milhões de t de milho e 92,5 milhões de soja, a depender do humor do mercado, e do USDA.