Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Brasil dispõem de 16 mil unidades armazenadoras, que somadas possuem a capacidade estática para guardar 125 milhões de toneladas de grãos. O volume de armazenamento, contudo, de acordo com o pesquisador da Embrapa Soja, de Londrina, Irineu Lorini, é deficitário e pode comprometer os aumentos estimados de produtividade do grão, que na safra passada atingiu o pico de 147 milhões de toneladas. "O Brasil precisa investir urgente em boas estruturas de armazenagem, porque não basta o campo mostrar que consegue produzir bem e aumentar sua produtividade se esse crescimento não for acompanhado de um sistema armazenador que supere o déficit existente, pois hoje ele é inferior à capacidade produtiva", comenta Lorini.
De acordo com ele, esse aumento de produtividade estocada em armazéns tem contribuído para a proliferação de pragas de armazenagem, sobretudo na soja, o que tem gerado perdas estimadas em 10% dos grãos produzidos no país. "Este assunto é um problema antigo, mas que tem recebido um enfoque novo, tanto por parte dos produtores quanto das centrais armazenadoras, porque ele está aumentando e provocando dificuldades na comercialização do grão", explica o pesquisador, acrescentando que além de dar prejuízos econômicos, a ocorrência de fungos pode contaminar os alimentos com micotoxinas nocivas à saúde.
Entre as principais pragas de armazenagem estão traças e carunchos que, em sua maioria, se desenvolvem apenas nos silos e armazéns, e não nas lavouras. "Na soja, principalmente, tínhamos apenas algumas traças que surgiam nas sacarias ou na superfície da massa de grãos de soja durante o armazenamento. Porém, nesses últimos tempos começaram a aparecer besouros que são causadores de danos mais severos que atacam em maior profundidade o grão", conceitua Lorini.
Qualidade e sanidade
Comuns nas culturas de milho e trigo, esses carunchos, cada vez mais presentes na soja, demandam medidas de controle que evitem prejuízos e dificultem a comercialização do grão. "A nossa competitividade nos faz conquistar melhores mercados, internos e externos. Porém, a qualidade e a sanidade são fundamentais, pois, caso contrário, podemos perder os mercados já existentes e limitar a comercialização futura por causa de pragas, doenças e contaminantes químicos que estão sendo exportados junto com o nosso grão", argumenta o pesquisador, que desenvolve um projeto no sentido de estudar o aparecimento das pragas e as maneiras de combatê-las.
Para amenizar o problema, Lorini esclarece que o armazenador deve aproveitar os períodos em que os silos estão vazios para preparar o espaço para a nova safra, pois as medidas permitem reduzir o impacto das pragas. "Além do aumento de produtividade, que acaba fornecendo uma quantidade maior de alimentos também para as pragas, a soja permanece um tempo maior nos silos e armazéns. Alguns anos atrás, a soja era colhida, passava nos armazéns, era padronizada e embarcada para os portos a fim de ser exportada. Hoje, o grão permanece, em média, um ano nos armazéns, o que significa uma maior quantidade de alimentos para as pragas", diz.
Fonte: Diário da Manhã