Enquanto a condição é de apreensão com relação ao comportamento do clima para a safra de verão, devido ao predomínio do La Niña de intensidade moderada a forte, as lavouras de inverno foram favorecidas pelas condições, em especial o trigo, que apresenta safra recorde. Neste ano, foram cultivados cerca de 153 mil hectares na região. A colheita está praticamente encerrada, e os resultados apontam, segundo levantamento da Emater, como a melhor de sua história em termos de qualidade e produtividade.
Isto porque, a chuva reduzida, baixa umidade relativa do ar, entre 40 e 50% e as temperaturas noturnas variando de 12ºC a 17ºC foram fatores benéficos para a safra de inverno, sobretudo, a sanidade das lavouras de trigo. O cereal teve área reduzida em 12% comparando com a safra de 2009, por causa do baixo preço e desempenho ruim da cultura, em função do predomínio do El Niño naquela ocasião.
O agrônomo da Emater, Cláudio Dóro, enfatiza que o comportamento climático é fator decisivo para o desempenho da lavoura. Neste ano, a produtividade supera as expectativas, estando entre 2.400 a 3.600 quilos por hectare, uma média de 45 sacas/ha, enquanto que a média de 2009 foi de 37sc/ha. "Com a indicação de clima favorável a safra de inverno, os grandes produtores investiram em tecnologia, o que também colaborou para os resultados finais", diz o agrônomo.
Em termos de qualidade, o pH está com média de 80, sendo que é considerada boa qualidade produto com pH de 77 a 84. E qualidade significa remuneração. Entretanto, por enquanto, o recorde obtido dentro da porteira ainda não está refletindo no bolso do produtor.
Mercado
O agrônomo comenta que a saca de 60 quilos está sendo comercializada no máximo a R$ 23,00 no balcão. "Esse valor é extremamente baixo e não se deve fazer negócios com estes patamares, pois é inviável", diz.
Por conta da situação, agricultores estão se inscrevendo em cerealistas e cooperativas para participar dos leiloes do PEP (Prêmio de Escoamento do Produto). Dóro diz que eles serão realizados semanalmente. O último ocorreu neste dia 2. Mas o primeiro, no dia 25, teve saldo negativo.
A realização de leilões visa escoar o produto gaúcho para outros estados, especialmente para as regiões Norte e Nordeste. E também ser uma forma dos agricultores fazerem negócios com preços melhores. A tendência, é de que conforme for reduzindo a oferta, o preço venha a aumentar via PEP. Até porque, a importação para os moinhos está desfavorável no momento. Cláudio Dóro diz que adquirindo dos Estados Unidos, moinhos chegam a pagar R$ 37,00 a saca. Mas a alta no mercado internacional ainda não refletiu no mercado interno, o que torna vantagem para os moinhos adquirir o produto nacional.
Acima da média
O agricultor Ettier Bordignon, de Bela Vista, interior de Passo Fundo, cultivou 72 hectares com o cereal nesta safra – área reduzida em relação a 2009, quando plantou 96 ha. Naquele ano, obteve produtividade média de 50sc/ha. Nesta safra, a média foi de 70 sacas por hectare com pH 81. "Aposto em fertilidade do solo, manejo, tratos culturais, adubação", diz. Mas apesar de obter produto de alta qualidade e produtividade, Bordignon diz que se não conseguir vender pelo preço mínimo, em 2011 não vai plantar trigo. Nos outros 200 ha da propriedade ele deixa com cobertura (aveia preta). A renda da família provem da safra de verão, onde foram plantados 230 ha de soja e 30 ha de milho. "Não aumento a área de trigo, porque a colheita acontece no momento do plantio da soja, que é de onde vem minha renda. Não adianta trabalhar e se desgastar tanto com o trigo, se o governo não incentiva os produtores", declara.
Fonte: Diário da Manhã
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