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Efeitos podem não ser devastadores

Efeitos podem não ser devastadores O La Niña já está atuando há alguns meses, influenciando o clima. O primeiro efeito perceptível foi nas temperaturas, deixando a primavera mais fria, geadas tardias, como ocorreu em outubro no Norte do Rio Grande do Sul e Planalto Sul de Santa Catarina. De acordo com o meteorologista do Inmet-Mapa, Luiz Renato Lazinski, as temperaturas ainda continuam abaixo da média para a época do ano. Mas, neste momento, também pode ser observada a diminuição das chuvas, como na maior parte do Sul do Brasil, entre agosto e setembro deste ano. No mês seguinte, voltou a chover, embora abaixo do padrão climatológico, e agora, novamente, observa-se uma diminuição das precipitações, principalmente no Sul de SC, no RS e nas áreas produtoras de grãos da Argentina. A partir do Norte de SC, no estado do Paraná e em direção ao centro do País, as precipitações também estão um pouco abaixo da média, mas ainda sem comprometer as lavouras. O La Niña também influenciou no atraso das chuvas do Centro-Oeste do Brasil, causando, com isto, um atraso no início do plantio das lavouras daquela região. Na região do Planalto, conforme registros do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura da Embrapa Trigo, o mês de novembro de 2010 foi o de menor quantidade de chuva dos últimos 30 anos. Intensidade pode refletir no potencial de rendimento Neste ano, havia a expectativa que seria La Niña de intensidade moderada. Porém, os últimos boletins dos principais institutos meteorológicos indicam que será de intensidade moderada a forte. Lazinski diz que os prognósticos para os próximos meses, para o Centro-Sul do Brasil, indicam uma diminuição ainda maior das precipitações, principalmente para dezembro, podendo, em janeiro e fevereiro, as chuvas retomarem os padrões normais, mas voltando a diminuir novamente a partir de março. A previsão é de que, por conta do fenômeno, dezembro e março sejam os mais críticos em relação à escassez de chuva. Neste caso, para a agricultura regional, afetando principalmente a fase inicial do ciclo de desenvolvimento da soja e, em março, o período de enchimento de grãos e final de ciclo.

Caso isso se confirme, podem ser antevistos impactos no crescimento da cultura, com um menor acúmulo de biomassa total, além de aceleração da maturação e diminuição do tamanho de grãos. Com isso, mesmo que não de forma drástica, causando algum nível de perda de potencial de rendimento.

O último La Niña ocorrido foi em 2008, com intensidade bem inferior ao atual, segundo o meteorologista Luiz Renato Lazinski. Ele afirma que, evento parecido com o de agora, foi registrado nos anos de 1998, 1999 e 2000, quando o La Niña durou quase três anos seguidos. Lazinski diz que a região Centro-Sul do Brasil deve sofrer com as baixas precipitações ao longo dos próximos meses. Já a região Centro-Oeste, que está com o plantio atrasado devido à escassez de chuvas, não deve ter problemas com as precipitações, de agora em diante.

Gilberto Cunha, agrometeorologista da Embrapa Trigo, frisa que os problemas de deficiência hídrica na agricultura sul-brasileira de verão, em particular na gaúcha, são devidos a duas circunstâncias. A primeira está relacionada com o fato de que no período de novembro até março, em geral, a quantidade de chuva normalmente é inferior à demanda de água dos cultivos, que é representada pela evaporação mais a transpiração das plantas.

A outra diz respeito à irregularidade na distribuição dos eventos de precipitação. "As duas condições, quando associadas, potencializam o problema", ressalta Cunha. Ele explica que o fenômeno La Niña, costuma causar redução nas chuvas no Sul do Brasil, por isso o temor diante dessa condição nos agricultores. Mas o agrometeorologista diz que é importante ter clareza que as épocas do ano mais impactadas pelo La Niña são a primavera e o outono, dois momentos que não coincidem com os períodos mais críticos das lavouras de verão em relação à questão hídrica. "É isso que faz com que as maiores frustrações na agricultura gaúcha, por falta de chuva, não tenham sido registradas em anos de La Niña, a exemplo de 2004/1005", acrescenta.

Na opinião de Gilberto Cunha, o La Niña deve ser analisado pelos benefícios que traz aos cultivos de inverno, vide a safra de trigo de 2010, em função de definir uma primavera de temperaturas amenas e menos úmida. É fato bem conhecido que, para os cultivos de verão no Sul do Brasil, os melhores anos são os de El Niño. Anos de La Niña não têm sido marcados por perdas dramáticas por seca na agricultura gaúcha.

Todavia, mesmo não configurando um clima ideal, com chuvas abundantes e freqüentes, os anos de La Niña não têm sido marcados por perdas dramáticas por seca na agricultura gaúcha. Inclusive, no caso da lavoura de arroz irrigado, pela maior luminosidade, acaba havendo também benefícios na produtividade nos anos de atuação deste fenômeno. "É em razão dessa análise que os efeitos do La Niña podem não ser tão devastadores para a agricultura, em particular para a cultura da soja, como muitos estão supondo neste momento", acrescenta Cunha. Apesar de que os efeitos do La Niña nãopossam ser ignorados, com relação a redução de chuvas, porque houve perdas de monta nas lavouras de milho e soja nas safras de 1995/1996, 1998/1999 e 1999/2000, as quais sofreram a influência do fenômeno.   Fonte: Diário da Manhã