Cooperativismo eleva competitividade de leite produzido por pequenos produtores
Brasília - Nos próximos cinco anos o Brasil será um importante exportador de leite por meio de suas cooperativas. A previsão é do coordenador da Câmara de Leite da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Vicente Nogueira. Devido a avanços tecnológicos e de conhecimento, o Brasil deixou de ser importador de lácteos para se tornar auto-suficiente, suprindo a demanda interna do País, além de exportar. Em 2008 o valor exportado dos produtos lácteos foi de US$ 540 milhões. Desse total, 50% foram provenientes de cooperativas.
De acordo com Vicente, o setor leiteiro no Brasil vai permanecer crescendo e as cooperativas terão papel de destaque cada vez maior nesse crescimento, a exemplo do que ocorre em outros países. Ele explica que, nos Estados Unidos, 85% do total da produção é proveniente de cooperativas, assim como na Nova Zelândia, com 95%, Uruguai e Chile, com 85%, e Costa Rica, com 80%. Neste ano, o Brasil já produziu 30 bilhões de litros de leite, ocupando a quinta posição mundial no ranking da produção, ficando atrás da União Européia, Estados Unidos, Índia, e China.
Uma estatística produzida em 2003 pela OCB e Confederação Brasileira de Cooperativas de Laticínios (CBCL) apontou que, de 151 mil famílias ouvidas no setor leiteiro, 60%, ou seja, 90 mil, eram de pequenos produtores que entregavam até 100 mil litros de leite por ano para as cooperativas. "O número de pequenos produtores tem diminuído, porém em intensidade menor", disse Vicente.
TENDÊNCIAS
Os avanços tecnológicos e de conhecimento levaram a pecuária leiteira no Brasil a ganhos substanciais de produtividade. "A OCB e a CNDL têm se fortalecido com a realização, por exemplo, de relatórios sobre o setor de lácteos. O apoio de instituições como o Sebrae fortalece esse amadurecimento", afirma Vicente. O Sebrae tem criado metodologias para aumentar a competitividade das cooperativas, como os projetos Balde Cheio e Educampo.
A força do cooperativismo, aliada ao aperfeiçoamento tecnológico, à melhoria da qualidade do produto e ao profissionalismo na gestão resultaram na criação, em novembro de 2009, da Cooperativa dos Produtores de Leite do Alto Paraíba (Cooplap), no interior de São Paulo. A gestora de Agronegócios no escritório do Sebrae em São José dos Campos, Tatiana Candeo, explica que o trabalho começou um ano antes da abertura da cooperativa. "Criou-se o Sistema Agroindustrial Integrado (SAI), embrião da Central de Negócios."
Nesse período, os produtores foram capacitados na metodologia do Empreender, com o objetivo de fortalecer e integrar o grupo. Juntos, aprenderam sobre compras e vendas, integração, liderança e aperfeiçoamento tecnológico, por meio do Sebraetec, Unidade Móvel de Atendimento e elaboração de Manual de Boas Práticas.
Ao passar a trabalhar com a Central de Negócios, a produção de leite quase triplicou - saltou de 37.378 litros de leite por mês, em 2008, para 135.985, em 2010. "Esse crescimento se deu devido à força do cooperativismo, que também foi decisivo para a qualificação. No início dos trabalhos, grande parte dos produtores armazenava indevidamente o leite em latões e em vasilhames de plástico. Hoje, 100% deles trabalham com tanques de expansão comunitários. Ao todo são 18 tanques", explica Tatiana.
Com isso, o preço médio do leite subiu. Antes os produtores vendiam a R$ 0,55, o litro de leite. Atualmente, a empresa de laticínios Perdigão paga R$ 0,85 pelo litro, enquanto a média do País é de R$ 0,77. Para pagar mais, a empresa exige dos produtores de leite de qualidade, com ausência de resíduos (antibióticos e pesticidas), baixa carga microbiana (higiene), baixa contagem de células somáticas (saúde do úbere), e boa composição (gordura e proteína).
Em março deste ano, o volume de leite produzido por mês pela Cooplap era de 134.762 litros. O produtor e presidente da cooperativa, Renato Pazzini, conta que, nas compras conjuntas, os produtores adquirem insumos, ração, medicamentos e tanques, o que tem permitido a redução dos custos. "O vermífugo, por exemplo, os produtores compravam individualmente a R$ 17,10. Por meio da Central, o custo hoje é de R$ 3,70, o que representa uma economia de 78%. O saco de milho tem valor de mercado em torno de R$ 26,00. Para o produtor, o valor cai para R$ 19,00 - 27% a menos", ressalta Renato.
O produtor lembra que, antes da criação da Central, o leite produzido em sua propriedade era vendido por diferentes preços, chegando, no máximo, a R$ 0,43. "Agora a realidade é outra”, comemora. Segundo ele, houve “queda dos custos por causa das compras conjuntas e aumento do volume, o que tem dado força as negociações de compra e venda".
Fonte: Agência Sebrae de Notícias