Para o presidente da Cotrijal, o melhor momento para o setor agropecuário está só começando. Ele ressalta que a cooperativa deverá fechar este ano com um resultado animador e que as perspectivas para 2011 também são otimistas. "Estamos no caminho certo, embora ainda com grandes desafios a vencer", ressalta.
Jornal da Cotrijal - A crise que explodiu em 2008 a partir dos Estados Unidos terminou ou ainda traz consequências para o setor agrícola?
Nei César Mânica - É evidente que uma crise com essas dimensões ainda se fará sentir por um longo tempo. O mundo todo é afetado, a exemplo do que ocorre nos EUA, na Europa e alguns países da Ásia. É preciso ações conjuntas buscando um maior controle do capital financeiro. Essa crise deixa rastros importantes e o Brasil também sofre suas consequências. O crédito diminui, seu custo aumenta significativamente, a economia tende a diminuir seu ritmo e, no médio prazo, empresas poderão desempregar pessoas. Felizmente o Brasil procura reagir através de um conjunto de ações, liberando linhas de crédito por exemplo, mas deverá ter cuidado para evitar o populismo, sob pena de comprometer a estabilidade da economia. O nosso setor (alimentos) felizmente é um dos agentes que menos sofre em períodos de grandes crises, afinal precisamos continuar nos alimentando.
JC - Como o senhor vê o cenário dos grãos para os próximos anos?
Mânica - O primeiro aspecto positivo a considerar, e o mais importante para nós, é que, contrariando todas as expectativas, o fenômeno La Niña até o momento não exerce efeitos negativos na nossa região. Temos um cenário muito bom para o milho (já em estágios mais avançados) e bom para a soja (no início de desenvolvimento). No milho, a tendência é de preços firmes no mercado interno, até o ingresso da próxima safra brasileira (1ª safra) e preços médios maiores em 2011, com boas cotações mundiais, aumento das exportações brasileiras, queda dos estoques mundiais e retração nos estoques de passagem no Brasil. Na soja, as previsões para baixa da safra americana, de adversidades climáticas no Brasil e avanço nas exportações americanas, devem sustentar bons preços. Precisamos estar atentos aos movimentos da China, principalmente sobre medidas que serão adotadas na economia, como elevação na taxa de juros e desaceleração na economia, que causam impactos no mercado mundial de grãos. Quanto ao trigo, tivemos um desempenho quantitativo muito bom (rendimento/hectare, peso específico do grão). Esperamos que o governo amplie os leilões do PEP para assegurar liquidez à safra nacional, principalmente pela dificuldade maior que teremos com a colheita dos demais países do Mercosul.
JC - Que fatos o senhor destaca nesse ano de 2010?
Mânica - O ano de 2010 foi excepcional, tendo em vista que tivemos uma cultura de milho batendo recorde de produtividade e a soja com desenvolvimento excelente. A cultura de inverno apresentou boa produtividade, com destaque para a cevada, que se comportou muito bem. Então o destaque foi a produção de grãos, inverno e verão, com uma produtividade que fez com que o nosso produtor alcançasse bons resultados financeiros. Importante também foi a contribuição do clima, que apresentou boas condições em 2010.
JC - Quais foram os principais investimentos e ações da cooperativa em 2010 e com que objetivos?
Mânica - A cooperativa continua realizando ações dentro do seu planejamento estratégico, como por exemplo o crescimento na área de armazenagem. Estamos concluindo uma grande unidade em Vista Alegre, um ponto de recebimento em Bela Vista (Passo Fundo), realizamos melhorias de infraestrutura em Nicolau Vergueiro e em Três Passos, e também na sede em Não-Me-Toque. Também foram desenvolvidas melhorias nas lojas e supermercados e estamos dentro desse ano concluindo as grandes alianças e parcerias que fazem parte dos investimentos políticos que realizamos, algo importante para que possamos dar continuidade a esse crescimento da cooperativa.
JC - A Cotrijal tem uma história de atuação política frente a questões de interesse do produtor e de suas comunidades, participando e muitas vezes encabeçando movimentos por melhorias do setor agrícola. Quais as principais questões defendidas atualmente pela organização? O que a Cotrijal espera do novo governo e da nova presidente da República nesse sentido?
Mânica - Precisamos estar atentos às grandes tendências no nosso segmento. Como compatibilizar crescimento e uso de recursos naturais; concentração e consolidação em todos os mercados; grande volatilidade nos mercados (riscos). É fundamental que o governo atue, e é isso que esperamos, em questões que são os grandes desafios do agronegócio: perda de competitividade, valorização e volatilidade da taxa de câmbio, mecanismos de proteção de riscos, ausência de seguro climático, risco sanitário, preocupações ambientais.
JC - O principal desafio do sistema cooperativista é trabalhar nas duas frentes: a econômica e a social. A Cotrijal vem conseguindo fazer isso? De que forma? Quais os resultados?
Mânica - As cooperativas agrícolas são fundamentais, não só para a economia do Rio Grande do Sul, mas para o Brasil. Congregam um número enorme de agentes econômicos e milhares de pequenos, médios e grandes produtores rurais, sendo a grande fonte geradora de emprego ao longo da cadeia agroalimentar, incrementando renda e formação de capital, além de serem as grandes ativadoras do setor terciário (comércio, serviços e transportes, etc...). As cooperativas agrícolas, cada vez mais, pensam e agem profissionalmente, se organizam e modernizam a gestão, treinam e capacitam, fortalecendo o lema "Todos juntos somos fortes". Tudo isso se reflete na ascensão das cooperativas entre as maiores empresas brasileiras. Uma cooperativa eficiente economicamente será eficaz sob ponto de vista social, incrementando renda e desenvolvimento regional. Em recente seminário cooperativista foi demonstrado pelo Dr. Sigismundo Bialoslorli Neto (professor da FEA-RP/USP) a importância da empresa cooperativa para o nível de renda de seus associados. Ele revelou alguns dados importantes:
- Estatisticamente para um aumento de 10% na proporção de associados da cooperativa, existe a tendência de aumentar em 2,25% a renda média por estabelecimento rural.
- A existência de uma cooperativa exerce influência positiva diminuindo os preços dos insumos e aumentando os preços pagos ao produtor.
- Os produtores rurais com menos de 10 hectares, associados em cooperativas, apresentam 47% mais renda que os não associados.
- A liquidação de uma cooperativa regional, aumentou em 10% os preços dos insumos e reduziu em 15% os preços pagos aos produtores rurais.
Esses dados demonstram que cooperativas eficientes economicamente também contribuem no aspecto social e ambiental. É com esse espírito que a Cotrijal procura fazer a sua parte, com propósitos claros, controle da produção, produtor como sendo de dono e comprometimento.
JC - Como foi o desempenho da Cotrijal em 2010 e quais as ações e as projeções previstas para 2011?
Mânica - A Cotrijal em 2010 teve um bom desempenho. É importante salientar que vivemos um período de uma certa contradição: ótimos resultados quantitativos nas principais atividades e culturas, sem no entanto o mesmo resultado na nossa rentabilidade, principalmente em função dos preços dos nossos produtos. Em 2011, continuaremos a fazer a nossa parte, buscando o melhor desempenho, e na expectativa que fatores externos, como taxa cambial, por exemplo, não nos tirem a competitividade e a renda. Quanto às ações, em um ambiente onde a competitividade é cada vez mais intensa e as margens cada vez menores, uma das únicas alternativas que nos restam é a constante incorporação de tecnologia. Produtores que produzem acima da média se apropriam de ganhos por algum tempo. Produtores que produzem abaixo da média acabam saindo da atividade, elevando a média desta forma, exigindo novo incremento de produtividade. Essas respostas dependem de incorporação tecnológica. A Cotrijal vem se organizando profissionalmente, investindo na gestão empresarial, tecnológica e estratégica, na gestão da qualidade, investindo em cursos e treinamentos de seus técnicos, para que atuem em diversos elos da cadeia de negócio, imprimindo filosofia da cooperação, tornando nosso associado mais competitivo, através de informações de pesquisa e pesquisa de campo em parceria com universidades e institutos, implantando dias de campo, idealizando e conduzindo feiras, como a Expodireto Cotrijal, buscando a profissionalização do nosso associado. Trabalhamos forte, buscando um sistema de produção sustentável, através da rotação de culturas, interação das atividades e semeadura direta como base. Trabalhamos nossas atividades tendo como base as premissas de organização, tecnologia e gestão. Os números da cooperativa e seus associados, quando comparamos aos obtidos no estado e/ou no país, indicam que estamos no caminho certo, embora ainda com grandes desafios a vencer.
JC - A Expodireto Cotrijal completa em 2011 a sua 12ª edição. O que isso significa para a cooperativa? O que o visitante pode esperar da próxima feira?
Mânica - No mundo atual, não se pode pensar em desenvolvimento sustentável de nenhum setor sem informações. As políticas que desejamos para os diversos setores do agronegócio apenas terão suas dimensões estabelecidas se pudermos quantificar a produção, os ganhos, os impactos e a relevância das nossas atividades, e isso só pode ser feito com informações. A Expodireto Cotrijal permanentemente reforça essas necessidades, através de seus objetivos:
- buscar agricultura sustentável econômica, social e ambiental
- contribuir para o desenvolvimento da produção agropecuária
- levar informações e conhecimentos ao agricultor
- capacitar permanentemente o agricultor
- oportunizar bons negócios aos expositores e agricultores.
Para a Cotrijal, a Expodireto Cotrijal é o maior evento, onde podemos, de forma organizada e focada, mostrar o que o agronegócio é e representa para nosso país, discutir seus desafios e buscar a profissionalização de seus agentes. Dentro deste contexto, o visitante pode esperar que a edição de 2011 terá inovações, discutirá desafios, mostrará caminhos e apontará oportunidades, caminhando ao lodo do produtor rural.
JC - Que mensagem o senhor deixa para a Família Cotrijal (associados, colaboradores, clientes e fornecedores)?
Mânica - Gostaríamos de agradecer à grande família Cotrijal - associados, colaboradores, conselheiros, líderes, parceiros e clientes - pelo empenho que tiveram para que o ano de 2010 fosse realmente muito positivo. Ficamos felizes, porque conseguimos seguir o nosso planejamento estratégico e tivemos um ano muito bom. Queremos creditar esse sucesso a todas essas pessoas e parceiros. Concretizamos muitas coisas em 2010, mas esperamos alcançar ainda mais conquistas em 2011. Temos a certeza de que com o contínuo apoio do nosso quadro social, dos colaboradores e demais parceiros vamos tornar 2011 um ano repleto de realizações, para toda a família Cotrijal. A todos, um ano novo de muita paz e alegria.