A realização da análise de solos para a verificação da qualidade, como o teor de nutrientes e o grau de acidez - informações imprescindíveis para o bom desenvolvimento das culturas que ali serão semeadas - não é novidade na rotina da produção agrícola. Apesar disso, a constância dessa prática está abaixo do ideal. É o que defende o professor especialista em solos, Roberto Antunes Fioretto, do Departamento de Agronomia da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
'Ainda há quem considere a análise de solos como um documento exigido pelos bancos na liberação de financiamento agrícola', lamenta o professor. O solo é a base do sistema biótico das plantas, sendo responsável por quase todo o fornecimento de minerais. Por isso, o de boa qualidade, segundo Fioretto, é aquele que apresenta o volume de nutrientes equilibrado. 'O monitoramento do sistema só é possível por meio da análise de solos, por isso ela deve ser realizada constantemente.'
Outro foco errado concedido à análise de solos, diz o professor da UEL, está na avaliação apenas da acidez (provocada especialmente pela elevação do teor de alumínio, elemento tóxico às plantas) e, consequentemente, na indicação para o uso de calcário. 'É comum dizer que solo que pede calcário não presta. Mas estamos em um país tropical e temos que conviver com isso sempre.' Fioretto destaca ainda que a ocorrência de chuvas, cuja média anual é de 1.300 milímetros, também ajuda a 'lavar a terra'.
Entre os 'alimentos' utilizados pelas plantas e que são retirados do solo estão ao menos 11 tipos de minerais, classificados como macronutrientes (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre) e micronutrientes (manganês, zinco, cobre e boro). A classificação, como explica o pesquisador Gedi Jorge Sfredo, da Embrapa Soja, indica a exigência ou quantidade que as plantas absorvem desses elementos. 'Independentemente da quantidade, não há o que seja mais ou menos importante no desenvolvimento da planta, todos têm um papel e por isso não podem faltar', alerta.
Minerais
Os dois especialistas informam que os minerais nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) são os mais absorvidos pelas plantas e por mais tempo em seu ciclo de vida, por isso são os que integram as fórmulas de fertilizantes disponibilizadas pelo mercado para a reposição de nutrientes no solo. Fioretto destaca que a formulação NPK facilita também a fiscalização de produtos por parte do Ministério da Agricultura.
Mas o professor da UEL é bastante crítico em relação a esta fórmula que, para ele, é benéfica muito mais comercialmente do que para a saúde das plantas. 'Como o próprio organismo humano, todos os nutrientes precisam ser repostos'. A falta de outros tipos de minerais, de acordo com Fioretto, resulta nas frutas, verduras e legumes sem sabor disponíveis no mercado. Outra contribuição negativa é a de que a deficiência nutricional das plantas afeta diretamente a alimentação das pessoas, cujo valor de minerais e vitaminas também fica comprometido.
Além da utilização mais frequente da análise de solos, outro aliado na avaliação nutricional das plantas é a análise foliar, que segundo Fioretto permite fechar o diagnóstico da planta. O investimento na análise de solos fica em média R$ 30 e o da foliar R$ 50 por amostra. Segundo ele, a coleta de material para a análise de solos ocorre frequentemente com amostras de 0 a 20 centímetros de profundidade. 'O ambiente de produção é considerado até 40 centímetros de profundidade. Com a agricultura de precisão torna-se possível a extratificação das amostras', explica o professor. Nesse caso as porções de terra analisadas são de 0 a 10 cm, 10 a 20 cm e de 20 a 40 cm. Já na foliar são coletadas 30 a 40 plantas por amostra.
Célia Guerra