Professor José Antônio Costa
O Brasil tem muito a avançar no desenvolvimento de máquinas precisas. Esse foi o recado que o professor José Paulo Molin, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Sistemas Agrícolas da Universidade de São Paulo, deu aos participantes do Apsul América na manhã desta quarta-feira (14). Falando sobre a situação atual e as tendências futuras das máquinas precisas, ele ressaltou que o país tem acesso a toda tecnologia existente no mercado, mas a maioria ainda é importada. "O aspecto positivo é que as elevadas taxas de importação estão fazendo com que as indústrias brasileiras apostem nesse mercado e estejam em processo acelerado de desenvolvimento de equipamentos para atender a grande demanda interna", destacou.
Segundo Molin, a tendência futura é que as máquinas precisas tornem-se cada vez mais importantes na vida do produtor rural. Por isso, a pesquisa vai trabalhar para tornar essa tecnologia mais popular e os equipamentos mais acessíveis. Inclusive já começaram os estudos relacionados à automação da coleta de dados, visando eliminar etapas, até mesmo a necessidade de laboratório no caso de análises de solo. "O próprio equipamento faria a análise de dados", explica.
Manejo da lavoura para alto rendimento
Se a agricultura de precisão surge como uma das principais ferramentas para melhorar a produtividade das culturas, por outro lado o agricultor não pode esquecer de fazer coisas básicas. Segundo o professor José Antônio Costa, da universidade Federal do Rio Grande do Sul, para melhorar o rendimento da soja, o produtor precisa, em primeiro lugar, realizar de forma adequada a correção do solo, tanto da parte de acidez quanto de recomposição de nutrientes, para que a planta encontre condições favoráveis para expressar todo o seu potencial produtivo. Um segundo aspecto relevante é usar um material genético de bom potencial de rendimento. E, por fim, ele deve também melhorar as condições de ambiente para que esse potencial possa ser alcançado.
Para o professor, uma boa parte dos agricultores, especialmente os de mais idade, ainda tem dificuldade de incorporar novas tecnologias, inclusive da agricultura de precisão. Essa é uma barreira que precisa ser vencida: provar que existem novas oportunidades e técnicas para ultrapassar o rendimento atual. "A inteligência do homem não tem limite; se podemos movimentar um robô da Lua a partir da Terra, por que não vamos melhorar as condições do solo para obter maior rendimento?", questiona, ressaltando que a agricultura de precisão é uma tecnologia fundamental para a a evolução em termos de produtividade.
Tráfego controlado
Os benefícios que a redução das regiões de atrito das rodas de tratores e outros equipamentos proporciona ao solo foram alvo de debate na palestra conduzida pelo professor Carlos Trein, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com o tema "Princípios e aplicações do tráfego controlado". Ele explicou aos presentes que o assunto não é novo e que os produtores rurais, mesmo sem a utilização de equipamentos de precisão, já procuram reduzir o impacto das rodas no solo, mas que as novas tecnologias disponíveis podem auxiliar.
O ideal, de acordo com Trein, seria que o agricultor estabelecesse zonas de tráfego, deixando linhas sem cultura, para facilitar a entrada na lavoura. Para isso, os equipamentos da propriedade devem ter larguras múltiplas. Se a semeadora tem sete metros, por exemplo, a colheitadeira deveria ter o mesmo tamanho e as barras do pulverizador, 21 metros. Dessa forma, o ponto de atrito das rodas na lavoura seria sempre o mesmo. "Já comprovamos a vantagem de se trabalhar dessa forma, com o tráfego controlado, através de 74 trabalhos experimentais, que apontaram incremento de produtividade de 16% a 30% no restante da lavoura quando comparados com o não cuidado do posicionamento das rodas", informou, explicando que na Europa e especialmente na Austrália esse conceito já está bem fundamentado.