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Mendes diz que não tem pressa para mudanças na agricultura

Há pouco mais de um mês no cargo, gaúcho se compara a "camisa 10 "O ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, frustra as expectativas de quem esperava grandes mudanças no ministério assim que tomasse posse, mas ele avisa que agirá sem pressa. Ao assumir o cargo após denúncias de irregularidades contra seu antecessor, Wagner Rossi (PMDB/SP), o gaúcho recebeu carta branca da presidente Dilma Rousseff para demitir e contratar. Entretanto, cinco semanas após sua posse, houve apenas duas alterações de peso, como a ida de José Carlos Vaz para a secretaria executiva, que foi substituído na Secretaria de Política Agrícola por Caio Rocha, ex-secretário da Agricultura no Rio Grande do Sul.

As expectativas eram de grandes mudanças, principalmente na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), epicentro da crise política desencadeada pelas denúncias de irregularidades feitas pelo ex-diretor financeiro Oscar Jucá Neto, que culminou com a saída de Rossi, mas o ministro disse que não fará qualquer mudança na diretoria antes de ter em mãos o relatório das investigações da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre as irregularidades. Seria uma precipitação, alegou. "Não sou dono da verdade."

Mendes Ribeiro quer um projeto de gestão para a Conab e diz que quem não tiver condições para se adequar a esse novo modelo será afastado. Enquanto o relatório da CGU não sai, as conversas vêm acontecendo. Hoje o ministro se reúne com a pessoa que deve ocupar a diretoria financeira da Conab. O nome ele não adianta. Atualmente a diretoria financeira vem sendo ocupada interinamente pelo diretor administrativo Rogério Luiz Zeraik Abdalla.

O ministro não demonstra preocupação com as possíveis críticas sobre a demora nas mudanças. Ele argumenta que a cautela sempre foi uma de suas características. Como apaixonado torcedor e conselheiro do Grêmio, Mendes usa uma metáfora futebolística para exemplificar sua atitude. "Sou como um camisa 10. Aquele que raciocina, pensa. Que coloca a bola na perna esquerda e olha para os lados para ver quem está livre. Não costumo lançar alguém impedido." O ministro filosofa dizendo que, "às vezes, a gente muda não mudando". Ele comenta que muitas vezes, quando se fala em mudança de estrutura, as pessoas se assustam por causa das carreiras, "quando na verdade não é contra ninguém, é a favor".

Em relação aos comentários sobre seu pouco conhecimento da área, Mendes Ribeiro brinca, dizendo que continua sem saber de nada, mas com vontade de aprender muito. Tão logo assumiu o cargo já teve de enfrentar desafios, como o impasse do embargo russo sobre as carnes brasileiras; o papel de articulador no encaminhamento das discussões sobre o Código Florestal e a restrição às compras de terras por estrangeiros; além de ter que colocar a defesa agropecuária em alerta para monitorar as fronteiras, após o surgimento de um foco de febre aftosa na região central do Paraguai.

Mendes Ribeiro vislumbra uma solução para o embargo da Rússia a vários frigoríficos além daqueles instalados no Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso. O ministério está treinando fiscais agropecuários federais sobre as normas do serviço sanitário russo e na semana passada começou a encaminhar os laudos de inspeções feitas nas indústrias.

Dois dos principais atributos do ministro Mendes Ribeiro são sua capacidade de articulação e bom trânsito junto à presidente Dilma Rousseff e às outras áreas do governo, além de contar com apoio da base parlamentar. Em relação às expectativas de que possa ajudar a atender às demandas da bancada ruralista, como a restrição à compra de terras por estrangeiros e demarcações de terras indígenas e quilombolas, Mendes Ribeiro diz que fará força para resolver. "Eu sempre fui muito propositivo, faz parte da minha característica. Lutar para atingir os objetivos, que não são meus, e sim do governo, de pessoas que pensam agricultura."

Uma questão que também depende da força política do novo ministro é o descontingenciamento de R$ 274 milhões para subvencionar parte do prêmio do seguro rural. Os R$ 132 milhões disponibilizados neste ano já foram aplicados e agora as seguradoras aguardam mais recursos para dar início à contratação de novas operações da safra de grãos que começa a ser plantada. Questionado se haverá descontingenciamento, Mendes Ribeiro promete: "vamos liberar, sou um homem cheio de esperanças".

Outro problema que está na agenda do ministro é a resistência dos produtores e indústrias da Argentina em renovar o acordo privado sobre cota voluntária para exportação de leite para o Brasil. A reunião realizada quarta-feira em Buenos Aires, a quarta para discutir o tema, mais uma vez foi inconclusiva.

Apoio ao pequeno agricultor O posicionamento ideológico que muitas vezes coloca em campos opostos os defensores da agricultura e do meio ambiente, como a questão do novo Código Florestal, é visto por Mendes Ribeiro como natural. Na opinião do ministro, na prática as duas questões não são antagônicas, "pois o desenvolvimento sustentável é uma bandeira de todos". Ele também afirma não ver distinção entre agricultura familiar e empresarial. A criação de um ministério para cuidar da agricultura familiar (Ministério do Desenvolvimento Agrário), diz ele, se deu porque o Ministério da Agricultura cuidava mal dos pequenos produtores. Ele lembra que dois dias após ter assumido o cargo recebeu pequenos produtores da Via Campesina, que estavam protestando em Brasília, e que posou para fotos com boné da entidade. "Alguns acharam um horror, mas eu sou ministro da agricultura brasileira, do pequeno, do médio e do grande produtor."

Mendes aposta na criação de uma secretaria para tratar do cooperativismo como um caminho para dar condições de competitividade ao agricultor. Ele diz que a concentração das atividades econômicas é um fenômeno mundial.

"Os grandes se abraçam para formar corporações, então os pequenos devem se abraçar também, por meio das cooperativas e outras formas de associativismo." Mendes acredita que o Sistema Único de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa) será importante para incentivar o cooperativismo, pois permitirá a industrialização nos municípios.