Um ano após o início da atuação do fenômeno La Niña, cujo impacto no clima do Sul do país, que encerrou entre abril e maio de 2011, alguns institutos meteorológico apontam que o fenômeno retornou, devido ao resfriamento das águas superficiais do Oceano Pacífico, devendo predominar, pelo menos, até o início de 2012. A princípio, todos os indícios são de que esse um La Niña de fraca intensidade.
Para o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet/ Mapa), Luiz Renato Lazinski, apesar de alguns Centros de Climatologia já admitirem que o La Niña esteja atuando, seu parecer é de que a condição atual ainda é de neutralidade e ele só volte a afetar o clima brasileiro a partir de novembro/dezembro deste ano em diante.
Este próximo episódio de La Niña deve ser um pouco mais fraco que o anterior, e tudo indica que deve permanecer do final deste ano até, pelo menos, meados do próximo ano (ou mais). O último evento La Niña, ocorrido na safra de verão passada, teve um comportamento um pouco diferente do esperado, e a estiagem só se confirmou no extremo Sul do Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai. Antes deste, a outra ocorrência do fenômeno se deu na safra 2008/2009 e, provocou prejuízos significativos nas lavouras do centro-sul do Brasil, Paraguai e Argentina.
"Já para as condições de El Niño, nosso clima é mais favorável para as safras agrícolas de verão do Sul do Brasil. O último El Niño foi registrado na safra 2009/2010 e anterior a esta, foi à safra de 2002/2003, as quais foram excelentes safras", acrescenta Lazinski.
Diante destes prognósticos, o meteorologista afirma que se pode esperar um bom início de safra de verão, com chuvas mais frequentes, mas no decorrer do desenvolvimento das lavouras, a partir de novembro em diante, as boas chuvas do início desta safra, devem dar lugar a irregularidades na precipitação pluvial, com possibilidade de ficar abaixo da média.
O agrometeorologista e pesquisador da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha, salienta que o resfriamento das águas superficiais do Oceano Pacífico já indicam que a condição é de La Niña. E que esse evento deverá permanecer ativo até o primeiro semestre de 2012. Cunha explica que o impacto de La Niña no clima mundial é menos conhecido do que do El Niño. Apesar de La Niña, geralmente, causar um impacto climático que é o inverso do que ocorre em anos de El Niño, não se pode ver La Niña como meramente o oposto do El Niño. De qualquer forma, frisa Cunha, em anos de La Niña a tendência é de redução de chuvas no Sul do Brasil, particularmente nos meses da primavera e início do verão. Sua atuação é mais forte, segundo o agrometeorologista, na metade Sul e na parte Oeste do Estado.
Cunha destaca que é preciso entender que uma previsão de chuva abaixo do normal, na escala estacional, não significa necessariamente uma seca agronômica e, por consequência, uma antecipação de prejuízos na agricultura por quebra de safra. Ele detalha os diferentes conceitos de seca: seca meteorológica, que é quando chove menos quantidade e a normal; seca hidrológica, quando a precipitação pluvial é reduzida e isso afeta os mananciais hídricos, percebendo-se na diminuição de água nos açudes e na vazão e altura do nível dos rios; e ainda, a seca agronômica, quando de fato, a redução intensa da chuva também baixa a água armazenada no solo, causando déficit hídrico para os cultivos e ocasionando impactos negativos na agricultura. Por último, nessa escala, "quando os fenômenos são intensos, temos o que se pode chamar de seca social e econômica, que afeta, indistintamente e em particular, as regiões que tem a sua vida econômica muito dependente da atividade agrícola", comenta Cunha. Portanto, não se pode confundir uma previsão de chuva abaixo do padrão climatológico normal com seca hidrológica ou agronômica e, muito menos, com desdobramentos sociais e econômicos, que acontecem em um estágio mais evoluído de uma situação de seca, realça Gilberto Cunha.
No momento, apesar da cautela que há que se ter com o uso dessa informação, o agrometeorologista, diz que a perspectiva é de que La Niña atue nessa primavera e começo do verão, provocando chuva dentro ou um pouco abaixo dos valores normais, implicando em uma seca em escala meteorológica e que, não necessariamente, isso virá se refletir em uma seca agronômica.
Diante da tendência desse comportamento do fenômeno La Niña, Cunha diz que sempre há preocupação com a possibilidade de períodos de escassez de água e a economia deste recurso hídrico, no caso da agricultura, especialmente via a manutenção de água no solo, deve ser algo permanente, considerando-se os cultivos de verão no sul do Brasil, que, não raro, são afetados por períodos de estiagem. Para tanto, ele recomenda que os produtores busquem construir uma maior capacidade de armazenamento de água nos solos, via a adoção de práticas de manejo conservacionista, melhoria da estrutura física do solo, elevação da matéria orgânica e remoção de camadas de impedimento para as plantas aprofundarem as raízes, tanto físicas quanto químicas. Isso implica em adoção de estratégias de longo prazo, envolvendo, por exemplo, esquemas de rotação de culturas e cuidado no manejo de animais em solos também usados para cultivos anuais. No curto prazo, como medidas imediatistas, diante do risco de seca causado por La Niña, que não pode ser ignorados, recomenda-se deixar uma maior quantidade de palha em cobertura, para conservação de água, e a adoção de estratégias de minimização de risos, que envolvem o escalonamento do plantio e uso de cultivares com ciclos diferentes.
Fonte: Diário da Manhã