Comitiva busca apoio para acabar com restrições que atingem principalmente calçados e móveisA continuidade da restrição argentina à entrada de produtos brasileiros no país, movimento que assola principalmente as indústrias calçadista e moveleira do Rio Grande do Sul, levou o governo gaúcho, parlamentares e empresários a pressionar a União a adotar medidas contra o vizinho. Reunidos em Brasília com o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Alessandro Teixeira, ouviram a promessa de que será dada continuidade à negociação "diária" com líderes argentinos na tentativa de reduzir o impacto às cadeias afetadas.
Para ganhar maior poder de barganha, um levantamento produzido pela Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs) e pela Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados) diagnosticando o volume de perdas ao Estado com as barreiras comerciais será produzido e enviado ao Mdic. A elaboração do documento foi acordada durante o encontro, com a proposta de dar mais um argumento ao governo brasileiro nas negociações com a Argentina.
Até agora, cerca de 3,4 milhões de pares de calçados não conseguiriam obter permissão para entrar em solo argentino. Os fabricantes já foram onerados com perda das vendas no Dia das Mães argentino, comemorado em outubro. O receio hoje é que a comercialização para o Natal também seja atingida. "O secretário Teixeira disse que passadas as eleições argentinas, o Brasil iria retomar as negociações com Buenos Aires de forma mais intensa para uma rápida solução nesse contingenciamento de milhões de pares ainda trancados", afirma o diretor-executivo da Abicalçados, Heitor Klein.
Apesar da esperança em ver o dilema das diversas exportadoras solucionado, o principal argumento apontado na reunião para que o governo brasileiro não adote medidas mais drásticas é que a balança comercial com a Argentina ainda é bastante favorável ao Brasil, com um saldo de aproximadamente R$ 7 bilhões. O cenário, que dificulta as negociações, porém, não pode ser aplicado ao Rio Grande do Sul e a setores que exportam aos vizinhos cisplatinos. De acordo com o deputado federal Ronaldo Zulke (PT-RS), que participou da audiência, enquanto o Rio Grande do Sul exporta ao país cerca de R$ 1 bilhão, as importações já estão na casa dos R$ 3 bilhões. "Isso exige uma mediação entre o que são os interesses do Estado e esse quadro mais geral do País", afirma.
Apesar de reconhecer que o saldo brasileiro nas vendas com a Argentina é um entrave para liberar a entrada de produtos naquele mercado, o parlamentar demonstra otimismo quanto à persistência do Mdic nas negociações. Ele lembra que o governo brasileiro, ainda que em menor medida, também está impondo restrições a produtos como balas, chocolates e automóveis argentinos.
As sanções brasileiras parecem não ter efeito sobre a cadeia moveleira. A conselheira da Movergs e vice-presidente regional da Fiergs, Maristela Cusin Longhi, calcula que mais de R$ 7 milhões em móveis produzidos no Estado estejam barrados, com licenças que levam, em médio, 136 dias para serem concedidas.
"Isso tem que ser resolvido de alguma forma, precisamos de uma interferência", reivindica Maristela. A dirigente afirma que uma das questões priorizadas durante a reunião em Brasília é a falta do posicionamento argentino em cumprir os acordos comerciais, que segundo ela, não pode ser encarado como um problema pontual.