Com prejuízo estimado em R$ 10 milhões, Vista Gaúcha, na região Noroeste, foi o primeiro município do Estado a decretar situação de emergência motivado pela crise na suinocultura. Além do embargo da Rússia e o boicote argentino, a seca agravou a situação ao causar a elevação dos preços de milho e da soja, principais insumos da atividade. Ontem, outras 15 cidades do Alto Uruguai sinalizaram que adotarão a mesma estratégia nos próximos dias. Segundo o prefeito de Vista Gaúcha, Claudemir Locatelli, o comércio já amarga queda. E a redução no plantel de animais, resultado do abandono da atividade ou do corte de custo dos 122 produtores, prejudica ainda a pecuária leiteira. A carência de esterco para adubação das pastagens fez a produção diária de 1,1 milhão de litros de leite recuar em 15%. "É um pedido de socorro. Esperamos sensibilizar os governos estadual e federal", afirmou o prefeito, ressaltando que a atividade responde por 60% da receita.
De acordo com o presidente da Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador, o decreto de emergência é um instrumento que pode auxiliar na busca por soluções, além de expor a "situação dramática" vivida pelo setor no país. Santa Catarina puxou o movimento no país. Ontem, 55 municípios catarinenses já haviam decretado situação de emergência. A meta é chegar a 80 hoje. A Associação Catarinense dos Criadores de Suínos calcula prejuízo de R$ 1 bilhão, considerando 18 meses de crise e o custo, que saltou 41,4% no período, para R$ 58,00 por animal.
No Rio Grande do Sul, onde o setor emprega quase 15 mil pessoas e gera 140 mil postos indiretos, as indústrias começam a adotar medidas para reduzir custos, como a aceleração no descarte de matrizes e a redução no peso médio de abate, hoje de 89 quilos por carcaça. Medidas que devem resultar em queda no abate e alojamento a partir do ano que vem. "Todo esse impacto está sendo suportado pela indústria, que trabalha no vermelho", disse o diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Suínos do Estado (Sips), Rogério Kerber. O executivo garantiu que demissões estão descartadas e que o preço pago ao integrado se mantem estável. Conforme o dirigente, as medidas defendidas pelo segmento são a venda de milho subsidiado e a desoneração da folha de pagamento.
O Ministério da Agricultura informou que avalia a prorrogação de custeio e investimento, dentre as medidas para reestruturação do segmento. A Pasta esclareceu ainda que as reuniões com o Ministério da Fazenda têm sido diárias. Semana que vem haverá protestos em Brasília.
Motivos que acenderam o sinal vermelho
- Com o embargo russo que fechou um ano em junho e a dificuldade de vender para a Argentina, o setor foi obrigado a buscar outros mercados, que remuneram menos;
- Embora a exportação brasileira tenha crescido 5,03% em volume (224,8 mil toneladas) entre janeiro e maio, frente ao mesmo período de 2011, o preço médio caiu 5,47%, para 2,57 mil dólares a t;
- No acumulado parcial de junho, a média de R$ 1,82 o quilo, recebida por suinocultores da Serra, recuou 11,2% em relação ao mesmo período de 2011;
- O preço pago ao produtor pelo quilo vivo, que vai de R$ 1,60 a R$ 1,90, não cobre o custo produtivo, de R$ 2,60;
- O valor da tonelada do farelo de soja dobrou nos últimos 12 meses e chega a R$ 1,1 mil;
- Produtores querem PGPM para carne suína, liberação extra-limite de crédito de custeio de R$ 1,2 milhão e inclusão da suinocultura no PL 2092/2007, que trata da reestruturação do passivo do campo. Além disso, pedem criação de fundo garantidor e leilão de VEP de milho do Centro-Oeste para os estados da Região Sul e São Paulo.
Fontes: Acsurs, ABCS, Cepea e Sips