Situação no Hemisfério Norte dá suporte para preços de soja e milho no Brasil, mas coloca em xeque o abastecimento global
Após uma largada espetacular, digna de causar inveja a qualquer agricultor, a produção de soja e milho dos Estados Unidos está se transformando em um martírio para os norte-americanos e espalhando tensão pelo mundo. O clima quente e seco que assola a principal região produtora do país, localizada no Meio-Oeste e conhecida como Corn Belt (cinturão do milho, em inglês), tem cozinhado as plantações a cada semana, colocando em risco o abastecimento global das duas commodities agrícolas mais consumidas atualmente(clique aqui e leia mais).
O panorama levou mais de mil condados em 26 estados a decretarem situação de emergência, conforme a imprensa norte-americana. "A estiagem que hoje castiga os Estados Unidos é mais ampla que a registrada em 1988, ano que trouxe enormes prejuízos para a agricultura do país", avalia Alexandre Aguiar, da MetSul. "É incrível como tudo ficou seco. Alguns produtores nem devem conseguir colher os produtos", disse à reportagem Jeff Caldwell, editor do Agriculture.com, um dos sites mais populares do setor nos Estados Unidos
O caldeirão em que se transformou o Meio-Oeste ao longo do último mês fez os preços da soja e do milho dispararem nos pregões norte-americanos e, consequentemente, no Brasil. Em Paranaguá, a saca de 60 quilos da oleaginosa renova recordes de preços quase diariamente por conta da falta de produto disponível - resultado da quebra da última safra de verão. "Não havia ninguém no mercado ontem, nem para comprar nem para vender. Todos estão observando os movimentos em Chicago", relata Steve Cachia, analista da Cerealpar. Levantamento da Secretaria Estadual de Agricultura (Seab) calcula que o preço médio da soja foi de R$ 65,96 no estado, com alta de 0,18% no dia.
No caso do milho, os preços internos ainda não acompanham as valorizações da Bolsa de Chicago por causa do quadro de oferta recorde do produto no Brasil. "Estamos em plena colheita, mas, assim que os importadores de milho, especialmente os asiáticos, se derem conta de que a safra nos Estados Unidos não vai poder atender às expectativas iniciais, eles começam a olhar para o produto brasileiro", afirma Cachia.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) surpreendeu o mercado ontem ao realizar cortes de produtividade da safra atual além do esperado. Mesmo assim, a soja fechou o dia em queda, valendo US$ 16,28 por bushel (o equivalente a US$ 31,81 por saca), com base no primeiro contrato. O milho teve baixa de 23 pontos em relação à sessão de terça-feira e terminou o dia cotado a US$ 7,38 por bushel (US$ 17,31 por saca). "O USDA admitiu que é grave a situação do país e isso preocupa os compradores lá fora, que muitas vezes preferem "embolsar" os lucros dos dias anteriores através das vendas de contratos", explica Cachia.
Daqui para frente, a intensa volatilidade deve continuar acompanhando as commodities no mercado internacional, mas a tendência geral de preços ainda é positiva. "No milho, está claro que o prejuízo será grande, mas a soja pode sofrer ainda mais", aposta o especialista. O comportamento do clima no cinturão de produção norte-americano deve ser o principal fator influente sobre os preços e, quanto a isso, "não há perspectivas de que o clima vá melhorar", aponta Luiz Renato Lazinski, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Segundo ele, há previsão de chuvas para os próximos dias, mas em volumes abaixo do normal.
Fonte: Gazeta do Povo