Com quebra internacional, Brasil terá de importar 1,5 milhão de toneladas de fora do Mercosul, o que amplia competitividade da safra nacional
Receba boletinsAumentar letraDiminuir letraNo momento em que a colheita dá os primeiros passos, os produtores brasileiros de trigo, que temiam novo revés, se deparam com uma perspectiva de mercado favorável. Os preços melhoraram e, caso o clima não atrapalhe, a qualidade do produto colhido promete agradar à indústria, garantindo a comercialização. Aliado a isso, países que tradicionalmente exportam o grão para o Brasil, como Argentina, Rússia e Austrália, registram quebra climática, o que aumenta a escassez no mercado interno, 50% dependente das importações.
O relatório mensal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) crava: houve queda na produção e o comércio internacional deve movimentar volume 12% menor que as 153 milhões de toneladas da última safra. A Argentina deve colher 11,5 milhões de toneladas (3,5 milhões a menos) e deverá exportar 5 milhões (6,8 milhões a menos).
"O trigo só está garantido quando está no armazém." Com essa afirmação, Modesto Daga, produtor e consultor em Cascavel, alerta para o risco dasintempéries climáticas. Fatores como o vento e as chuvas mais severas podem comprometer a qualidade do grão, reduzindo a classificação e prejudicando as negociações. Apesar dos riscos, a previsão do tempo para os próximos 15 dias minimiza a possibilidade de problemas. A colheita ganha ritmo em setembro e segue até novembro.
Lizandro Jacobsen, metereologista do Simepar, indica que nesta semana a possibilidade de chuvas é baixa. "O tempo deve ficar normal, com sol, e dificilmente deve haver frio", afirma. "É pouco provável uma virada brusca no tempo, pois a maioria das frentes frias que chegam ao Rio Grande do Sul não têm conseguido avançar em direção ao Paraná", complementa. (IC)
A redução na oferta afetou os preços no mercado internacional e, com isso, o produto importado perde espaço para o nacional no mercado interno, explica Modesto Daga, produtor e consultor em Cascavel, no Oeste. O câmbio colabora para esse quadro, acrescenta. "Antes a cotação do dólar estava descendente, o que dava boa condição de financiamento ao produto externo. Agora a situação mudou."
O quadro traz otimismo a produtores como Vinícius Lazarini, de Cascavel, que espera colher um trigo de alta qualidade. "Como não houve intempéries climáticas na região e o mercado mudou, a safra deverá ser boa, e com qualidade." Sua área, de 350 hectares, deve receber as colheitadeiras em aproximadamente 15 dias.
Os preços praticados no Paraná não deixam dúvida. Na última semana, segundo a Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab), a saca de 60 quilos chegou à casa de R$ 30. Em agosto de 2011, a média foi de R$ 25,68. A alta aproxima-se de 20%.
Daga espera incremento ainda maior. "Ao preço de R$ 35 por saca é possível cobrir integralmente os custos de produção, e o mercado deverá se aproximar desse nível", afirma.
A qualidade do trigo colhido, que costuma ser decisiva para a comercialização com a indústria, não deverá ser um problema neste ano, prevê o presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado do Paraná (Sinditrigo), Marcelo Vosnika.
Fonte: Gazeta do Povo