Presidente Nei César Mânica abriu evento
Nos últimos três anos, o produtor brasileiro tem sido beneficiado pelos preços altos da soja em safras abundantes. Na safra 2014/2015 o cenário positivo pode não se repetir. É o que apontaram os palestrantes do Seminário para o Desenvolvimento do Agronegócio Sustentável, que aconteceu na última quinta-feira (11), na Embrapa Trigo, em Passo Fundo, realizado pela Cotrijal. O presidente Nei César Mânica abriu o evento que contou com a presença de produtores e colaboradores da cooperativa.
"A previsão de safra recorde nos Estados Unidos, com incremento de 10% na área de soja, certamente vai refletir aqui", alertou o consultor da FCStone, Eduardo Sanchez, lembrando que, no ano passado, a queda na produção americana favoreceu as exportações do Brasil. Outro país que deverá atrapalhar a comercialização da principal commoditie brasileira é a Argentina, que detém o estoque de 33 milhões de toneladas prontas para entrar no mercado na época da colheita no Brasil. No último levantamento da Conab, a previsão é de aumento da área de soja no Brasil em 5%, com produtividades estimadas em 3 mil kg/ha (próximo a 50 sacos).
Segundo Sanchez, a produção maior pode gerar dois impactos divergentes: queda de preços no mercado internacional versus aumento da demanda em países com desenvolvimento econômico crescente, como a China. A China consome 85 milhões de toneladas de soja, mas a capacidade de esmagamento é de 150 milhões de toneladas. Somente no setor de suínos, a China responde por 57% da produção mundial. Na década de 1970, o consumo per capita de carne suína na China era de 8 kg/ano, média que subiu para 40 kg/ano em 2013.
Além do mercado internacional, o olhar do produtor se volta agora para a janela, relacionando o céu com consultas no computador em busca de previsões climáticas. O temor dos produtores de cereais de inverno com o excesso de chuva no período de enchimento de grãos e no momento da colheita não deverá se confirmar, assim como a abundância de chuva na safra de verão, como explicou o agrometeorologista da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha: "Neste momento, as chances do El Niño se estabelecer são de 65%, porém todos os indicativos são de um fenômeno de intensidade fraca. As precipitações na primavera, especialmente, são abundantes nos anos de El Niño. E ainda que os indicativos sejam e chuvas acima dos valores normais até o mês de dezembro, a expectativa é que os excedentes hídricos não sejam tão vultosos como nos anos de El Niño forte, a exemplo do evento de 1997/98".
Segundo Cunha, o ideal para as lavouras de verão é que entre dezembro e março a chuva ocorrida fique próxima dos 800 mm. "Quando isso acontece, as produtividades médias das lavouras de soja e de milho atingem altos rendimentos. Chuvas dessa magnitude são comuns nos anos de El Niño forte, por isso os eventos El Niños são muito bem-vindos para os produtores rurais que se dedicam aos cultivos de verão no sul do País", pontua.
Pela previsão atual, a expectativa é de um El Niño fraco a partir do final desse ano, o que vai permitir uma safra marcada por chuvas entre os valores normais ou acima, porém sem descartar períodos de estiagens curtas, que são comuns no verão brasileiro.
"Com a possibilidade de safra recorde e preços mais baixos do que nos anos anteriores, o produtor vai ter que investir em tecnologia e buscar produtividade", observou o gerente de Produção Vegetal da Cotrijal, Sílvio Biasuz, que também participou do seminário, junto com o superintendente de Produção Agropecuária, Gelson Melo de Lima. "Esse é o trabalho da cooperativa. Somar esforços para agregar conhecimento ao associado. São informações importantes e que com certeza vão ajudar o produtor a tomar a melhor decisão", destacou Lima.
Com informações da Assessoria de Imprensa Embrapa Trigo
Foto: Bárbara Born - Embrapa Trigo