Mendonça alertou que preços podem cair mais
Para 2015, a tendência é de supersafra nos Estados Unidos com a recuperação dos estoques. Um cenário que deverá refletir no Brasil com a queda dos preços. "Estamos em um ano de virada na economia mundial. É um ano de forte recuperação de ofertas de grãos e com preços mais baixos do que nos últimos anos". A análise é do economista Alexandre Mendonça de Barros Filho, da MB Agro, durante palestra para produtores, associados, técnicos e colaboradores da Cotrijal, em evento promovido em parceria com a Syngenta, em Passo Fundo.
Além da safra recorde de soja nos EUA - a expectativa é de uma colheita de inéditas 103 milhões de toneladas - há um cenário positivo de safra para o Brasil e Argentina por conta da visão de um El Niño fraco, a partir do final desse ano, o que deverá lotar estoques e puxar ainda mais para baixo a cotação do grão. No último levantamento da Conab, a previsão é de aumento da área de soja no Brasil em 5%, com produtividades estimadas em 3 mil kg/ha (próximo a 50 sacos). "O produtor que já fez custos razoáveis terá de colher muito bem num horizonte de preços mais baixos. Para isso, terá de caprichar na produção se quiser ter lucro na lavoura", alerta.
A estratégia para a safra 2014/2015, segundo o economista, é controle de custos, aumento da eficiência e da produtividade. No Brasil, a nova safra de soja só começa a ser colhida em fevereiro, então o preço do farelo deve se sustentar até este período.
Mercado benéfico para as carnes
Se no agronegócio o produtor vai sentir um pouco mais, o mesmo não deverá acontecer com as proteínas. O drástico recuo na oferta da proteína nos três principais fornecedores mundiais - Estados Unidos, Brasil e Austrália - tem sustentado os preços da carne bovina em patamares elevados, favorecendo o consumo de carne suína.
"É um momento excepcional para as carnes. Além de forte demanda e cotações em alta, os custos de produção estão mais baixos, devido à queda no preço das commodities agrícolas, em razão da expectativa de safra recorde nos Estados Unidos e da boa safra brasileira de milho e soja", adianta. Ele acredita que as exportações para a Rússia vão ajudar a enxugar os estoques de aves do Brasil com uma possível alta nos preços do frango e do suíno.
Crescimento x Inflação
Para Mendonça de Barros, o país só deverá voltar a crescer se mudar a estratégia política adotada nos últimos anos pelo governo Dilma Rousseff. Ele estima que o crescimento da economia brasileira não deve passar de 0,5% esse ano. "O governo Dilma tentou estimular o crescimento através da demanda, mas faltou investimento. O que acontece num país onde você estimula a demanda e a oferta não responde? começa a subir preço e aparece a inflação", explica.
Segundo o economista, o déficit do Brasil hoje é de US$ 80 bilhões, chegando a quase 4% do PIB. "Dívida pública descontrolada cedo ou tarde bate na inflação. O curioso é que estamos indo para quase zero de crescimento com uma inflação de 6,5%. Em um ano de margens apertadas, investir em infraestrutura, portos, logística será fundamental", observa.
Contas na ponta do lápis
Para a agricultora Fabiana Venzon, que planta em Passo Fundo e Nicolau Vergueiro, é o momento do agricultor começar a pensar de forma diferente para não ter prejuízos maiores no futuro. "Será preciso trabalhar mais com produtividade e controlar custos", afirma.
Atento ao novo cenário o produtor Luciano Matos, que tem lavouras em Carazinho e Almirante Tamandaré do Sul, compartilha da mesma opinião. "Não adianta ter bons preços e não ter produção. É o momento do produtor se preocupar mais em produzir e investir em tecnologia. Depois, se nós tivermos bons preços, melhor", diz.
Nesse ponto, ele reconhece que o trabalho da Cotrijal tem contribuído para elevar a produtividade nas lavouras da região. "A Cotrijal é o nosso braço seguro. É o apoio, a assistência e a recomendação adequada. Está sempre preocupada em trazer boas oportunidades para que o produtor tenha acesso a novas tecnologias e possa produzir mais e melhor", destaca.
"O setor do agronegócio vem de boas colheitas e tudo indica que vamos ter uma condição mais apertada, com preços mais baixos. Mas o que me preocupa de fato é que para melhorar a renda, o câmbio tem que nos favorecer. Ou seja, a moeda tem que desvalorizar e isso também vai impactar nos custos de produção", avalia Ildo José Orth, de Coxilha.
Para Vitor Julio Piccinin, da Syngenta, empresa parceira da Cotrijal, a mensagem que fica é produtividade. "O produtor sabe muito bem cuidar da porteira para dentro da lavoura. Nós acreditamos que quem investe, colhe e alcança altas produtividades vai se sobressair diante das adversidades", afirma.