O Rio Grande do Sul está sendo assediado por outros estados para apressar a mudança do status de zona livre de aftosa com vacinação. O secretário estadual da Agricultura, Pecuária, Pesca e Agronegócio (Seappa), Gilmar Tietböhl, afirma que recebeu há duas semanas documento e telefonema do titular da pasta da área de Minas Gerais, Gilman Viana, com pedido para aderir à eliminação gradual da vacina. A meta é buscar junto ao Ministério da Agricultura (Mapa) a autorização para a retirada nos animais adultos, acima de dois anos. Tietböhl condicionou a medida à consulta da cadeia produtiva local. A posição gaúcha será apresentada na reunião do Conselho Nacional dos Secretários de Agricultura (Conseagri), que ocorrerá hoje no Rio de Janeiro. A direção do Conseagri já conhece a proposta mineira e pretende aprovar posição conjunta dos membros.
A presidente do conselho, Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias, confirma que levará à apreciação dos participantes a intenção de retirada gradual. Tereza consultou o Mapa e ouviu resposta negativa sobre eliminação da vacina somente para animais adultos. "O ministério acha que não tem amparo técnico, mas queremos discutir o mecanismo. Vamos fazer planejamento de como podemos implementar", antecipou a presidente, citando que a redução na idade de abate pode ser bom argumento para a adoção do modelo proposto por Minas. O que seduz a dirigente, secretária de Agricultura de Mato Grosso do Sul, que tem fronteira de 1,5 mil quilômetros, é a possibilidade de uma ação coordenada dos estados para acelerar a implantação de zona livre sem vacinação nacional. "Na aftosa, não há debate político, é essencialmente técnico".
A condição sanitária dos estados em relação à aftosa será um dos principais temas do encontro. O conselho, que foi dirigido pelo secretário mineiro até agosto de 2009, discute os cronogramas e assiste a posições de busca de mudança de status, como a do Paraná, que já tem pedido no Mapa desde o ano passado. Rondônia fez a solicitação. Os paranaenses anunciaram, em maio, que pretendiam passar à condição sem vacinação neste ano, o que não deve se confirmar.
Hoje 14 estados, o Distrito Federal, dois municípios do Amazonas e outros 46 do Pará são zonas livres da doença com vacinação. Santa Catarina é o único que não vacina. Segundo Tietböhl, Viana enviou documento sobre a pretensão de suspender a vacinação a animais acima de 24 meses. O ofício, protocolado no ministério em junho, indicava a sugestão para que o Rio Grande do Sul acompanhasse a estratégia. "O Viana me ligou para reforçar o pleito. Deixei claro que respeitava a posição mineira, mas que não poderia me comprometer com a proposta sem consultar a cadeia produtiva", recordou o secretário gaúcho. A meta do colega de Minas Gerais seria efetivar a alteração até 2011.
Cadeia produtiva exige o fim de fatores de risco antes de mudança
O Rio Grande do Sul está dez pontos percentuais acima da exigência de cobertura vacinal, de 85% do rebanho. Na campanha de maio passado ostentou 95,3% de cobertura. Também cumpre critério como ter estados vizinhos com proteção. A fragilidade está nas fronteiras, segundo o secretário gaúcho Gilmar Tietböhl. A cautela reflete o temor de um repeteco do incidente de Joia, nas Missões, que protagonizou em junho de 2000 a volta da doença, após a conquista da zona livre sem vacinação em 1998. Além de perder o status, o Estado amargou restrições comerciais. O passivo mais visível foi a perda de 11 mil animais, um prejuízo calculado em R$ 10 milhões.
O presidente da Farsul, Carlos Sperotto, reforça que a cadeia produtiva nunca teve posição tão unânime como na condução da eliminação da vacina. Segundo Sperotto, a preocupação se concentra nas extensas fronteiras. Sejam no Sul ou no Oeste, com a Bolívia, mesmo sem contato direto com o Estado. "Estamos olhando mais a situação dos nossos vizinhos de fronteira que o quadro nacional. Pressão pode surgir, mas temos argumento robusto para não agir na euforia", preveniu o dirigente.
Fonte: Jornal do Comércio