Depois da abertura do evento, feita pelo presidente Nei César Mânica, que salientou a preocupação da cooperativa em auxiliar o produtor a produzir melhor e a obter maior rentabilidade, houve uma série de debates posicionando a cultura do trigo em relação às potencialidades e desafios que enfrenta no momento atual.
Abordando o tema "gestão de propriedade rural: importância das culturas de inverno no sistema de produção", o engenheiro agrônomo da Cotrijal, Leandro Pagliarini, mostrou aos agricultores os impactos positivos desses cultivos, quando analisados no contexto da produção e não isoladamente. Pagliarini apresentou os resultados do programa de gerenciamento desenvolvido pela Cotrijal com um grupo de produtores há mais de 10 anos, mostrando que alternativas como o trigo, cumprem importante papel agronômico (cobertura do solo, rotação, entre outros), e também agregam renda, diretamente, dependendo do ano, e de forma sistemática, pela diluição dos custos de produção.
O programa de Gestão de Propriedades Rurais tem como objetivos: viabilizar o bem-estar familiar; aumentar a renda e o patrimônio do produtor; minimizar os riscos de produção e de mercado; gerir com maior competência os recursos disponíveis; adaptar os recursos e as tecnologias aos objetivos do produtor e maximizar o lucro e a sustentabilidade da propriedade, que registra como uma visão moderna da gestão eficiente, a renda como objetivo; buscar a otimização do uso de recursos (terra, mão-de-obra e capital); fator humano como diferencial competitivo e conhecer o funcionamento de todos os segmentos do negócio.
COMERCIALIZAÇÃO E MERCADO
Perspectivas de mercado e oportunidades de comercialização foi o assunto abordado pelo analista da JF Corretora, Antônio Cardoso Garcia. Ele posicionou a cultura do trigo em relação a estoques de passagem e mercado e apresentou um trabalho que vem sendo desenvolvido pela corretora desde 1999 sobre os níveis de liquidez comercial dos cultivares implantados no Rio Grande do Sul.
Segundo os Estudos da JF Corretora, apenas 23% das sementes cultivadas no Estado gaúcho apresentam nível alto de liquidez, ou seja, têm ótima aceitação no mercado. Garcia reconheceu que este é sem dúvida um fator limitante à imagem da cultura do trigo, que contribui para que o cereal seja preterido em negociações tanto internas como externas.
Por outro lado, os números apresentados demonstram o quanto a Cotrijal está na frente nessa questão. Conforme dados do Departamento Técnico da cooperativa, mais de 45% da semente disponibilizada aos produtores assistidos está na faixa de alta liquidez.
SEGREGAÇÃO DE TRIGO
O diretor de Produção da Cotrijal, Gelson Melo de Lima, apresentou o trabalho de segregação de trigo que a Cotrijal vem fazendo em parceria com a Embrapa, através de um projeto do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), com o objetivo de definir procedimentos para produção de trigo com identidade preservada. O trabalho acontece de forma piloto na Unidade de Vista Alegre, município de Colorado, envolvendo inicialmente duas cultivares tipo pão branqueador, selecionadas por potencial produtivo e aceitação do mercado.
De acordo com o diretor de Produção da Cotrijal, Gelson Melo de Lima, a responsabilidade da cooperativa nesse projeto é fazer o trabalho de campo visando a adoção das práticas recomendadas pela Embrapa, que detém a tecnologia, e realizar um controle minucioso de todos os processos do produto - do plantio até a expedição final. "Nosso objetivo é gerar informações seguras sobre os passos que devem ser seguidos para obtenção de trigo com identidade preservada. Quais as facilidades e as dificuldades encontradas, os riscos e os ganhos".
Na visão de que o mercado cada vez mais vai exigir produtos diferenciados, a Cotrijal quer sair na frente. "Se tivermos condições de dizer: possuímos tal produto, com tais e tais características, é bem possível que consigamos, num primeiro momento, maior agilidade comercial, e num segundo, adicional financeiro", acredita Lima, ressaltando que os resultados do trabalho desenvolvido com a Embrapa vão servir de referencial para uma maior aproximação entre os elos da cadeia produtiva, que ainda está faltando nos dias de hoje.
As expectativas são de que este projeto siga a mesma trajetória do MIP Grãos - Manejo Integrado de Grãos Armazenados, introduzido na Cotrijal em 2001 apenas na Unidade de Victor Graeff, e que pelos bons resultados, acabou já no ano seguinte sendo estendido a todas as unidades da organização. Ao eliminar os insetos e os focos de reinfestação nos locais de recebimento, beneficiamento e armazenagem da produção e das demais estruturas da cooperativa, o Mip Grãos proporciona vantagens que chegam ao produtor na forma de valor agregado - através da melhoria na qualidade dos produtos armazenados, redução dos custos com tratamento fitossanitário, agilidade comercial, preços melhores e abertura de novos mercados.
CLIMA: o momento é de transição
Conforme os modelos meteorológicos analisados pela Somar Meteorologia, apresentados no evento pelo engenheiro agrônomo Rbson Sandri, coordenador técnico da Cotrijal, o clima para as próximas safras de inverno e verão não deverá apresentar grandes surpresas. O momento atual é de transição, passando do fenômeno La Niña para uma fase de neutralidade climática, e ao que tudo indica, a partir da Primavera haverá ocorrência de El Niño, com boa incidência de chuvas.
As previsões são de que o cenário climático nesse inverno seja semelhante ao da safra 2006, e o do verão, também próximo do aconteceu na safra 2006/2007, quando houve uma boa safra.
Segundo o agrônomo da Cotrijal, a combinação dos fatores estimados pela meteorologia é positiva para o Rio Grande do Sul, desde que os produtores assistidos tecnicamente trabalhem alinhados com os fundamentos da cooperativa, fazendo um bom planejamento e uma execução adequada das práticas de cultivo.