A assinatura de convênio entre a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) e produtores argentinos para garantir a qualidade do fornecimento do grão gerou reação imediata entre os triticultores gaúchos. Revoltados com o acordo, fechado ontem durante o 17 Congresso Internacional do Trigo, em Gramado, líderes do setor alegam que o termo é um desrespeito ao produtor brasileiro.
Descontente, o presidente da Comissão de Trigo da Farsul, Hamilton Jardim, aproveitou o evento para manifestar o desconforto do campo com a medida. "Dissemos que os produtores gaúchos já têm condições de atender ao menos em parte à demanda da indústria", alegou.
A declaração levou o diretor executivo da Abitrigo, Sérgio Amaral, a solicitar uma audiência a portas fechadas com o líder da Farsul. Na ocasião, o dirigente prometeu trabalhar na elaboração de uma parceria similar com os agricultores brasileiros. Segundo o diretor da Farsul, a ação pode ser um estímulo para transformar a produção de forma a suprir melhor à demanda de mercado, destacando mais o cultivo de variedades de tipo pão em detrimento das brandas. Além disso, ele observa que o desafio se estenderá aos produtores de semente e criadores de novas cultivares para perseguirem grãos melhores. "Também precisamos nos adequar para produzir com alta qualidade e em maior quantidade", pontuou. Presente no congresso, o presidente da Fecoagro, Rui Polidoro Pinto, disse que o setor não é contra acordos com outros países. "Queremos que o governo garanta que se tenha as mesmas condições para produtores brasileiros", destacou.
O convênio marcou o último dia do congresso e foi assinado pelo diretor executivo da Abitrigo e pelos presidentes da Associação Argentina de Produtores de Trigo, Alejandro Conti, e da Confederação das Associações Rurais de Buenos Aires, Alberto Frola. O acordo habilita os produtores associados a negociarem sua safra diretamente com a Abitrigo. Segundo a associação brasileira, as negociações deverão ser individuais para identificar a disponibilidade de produto de qualidade, volume e preços. Para Sérgio Amaral, o acordo agrega valor ao grão, que passa a ser classificado pela qualidade e não pelo percentual de glúten. "O produtor argentino sabe que o brasileiro quer qualidade e vai ajustar seu trigo à exigência do consumidor."
Fonte: Correio do Povo